quinta-feira, 3 de março de 2011

O Causo do Ônibus

Esse causo começou ainda em Caxias, quando fomos comprar as passagens rumo à São Paulo. O cara do guichê das passagens tinha lá no seu monitor uma imagem do ônibus, indicando as poltronas livres, e as ocupadas. Ônibus de viagem padrão, um andar, banheiro no fundo, uma geladeirinha e tudo mais. Beleza. Compramos nossas passagens para os assentos mais pro fundo, pra não ter que andar o ônibus todo pra pegar um copo d'água, e pra poder viajar mais jogado mesmo. Até aí, tudo tranquilo.
Chegado o dia da viagem, lá estávamos nós, na rodoviária, na plataforma de embarque indicada no bilhete, aguardando nosso ônibus. E ele chegou. Mas não era exatamente o nosso ônibus, era um ônibus de outra empresa, à serviço daquela. Deu pra entender? Resumindo, deve ter dado algum problema com o nosso ônibus e eles mandaram outro pra substituir. Enorme. Dois andares. Parecia o ônibus mais fodasso da história da humanidade. Por fora.
Dois andares? Eu sempre quis andar num ônibus de dois andares, lá em cima, ver tudo do alto e tal, de preferência bem lá na frente pra poder ver a paisagem de camarote! Mas a gente tinha comprado passagens lá pra trás. Ah, tudo bem, ainda assim é lá em cima... divertido.
Colocamos as malas no bagageiro e quando fomos subir, o cara falou: "Não, não.. a poltrona 40 não é lá em cima, é aqui embaixo!."
Aaaaaaaaaaaaaaah.... séééééério? Tá né.. T_T
Nossa poltrona era tão pra trás, mas tão pra trás, que não existia "tão" atrás assim na parte de cima, ficamos naquele compartimento pequenininho, embaixo de todo mundo, separados por uma parede do bagageiro. Ahh, não pode ser tão ruim. O compartimento tinha só 4 pares de poltrona, o frigobar do lado direito, uma TV, e uma improvisação de sala de estar, que consistia em uma mesinha com um sofazinho circular ao redor, do lado de uma janela, e mais um sofazinho do lado da outra janela. OOOOOti, é bonitinho, vaaaai!
Só que aí tem um porém ou dois. A nossa poltrona era aquela, justamente aquela, logo atrás do frigobar. O que quer dizer que não tinha espaço pra esticar as pernas, porque lá estava o frigobar. 
Ohhh... pelo menos vocês nem precisavam levantar pra pegar as bebidas! 
Ele estava vazio. VAZIO! É! Vazio. Tá... não tava totalmente vazio, tinha uma maçã mordida lá dentro. Antes estivesse totalmente vazio, heim?
O outro porém é que o "alojamento de baixo" não possui aquele compartimento pra por a bagagem de mão, que geralmente fica em cima das nossas cabeças em todos os ônibus de viagem. Não tinha lugar NENHUM pra por a bagagem de mão, o teto era baixinho! (PORQUE O NOSSO TETO ERA O CHÃO DO PESSOAL QUE PEGOU OS ASSENTOS DE VERDADE, EM CIMA.) 
Ah... calma.. respira e acaba de contar logo essa budega.
Tá, nossa bagagem de mão eram duas mochilas, grandes, cheeeeeeeias de quinquilharia, notebook, ps2, celular, câmera, carregador do notebook, carregador dos celulares, carregador das pílhas da câmera, todos os cabos e joysticks do ps2, casaco, alguma coisa pra ler, e comida. Garrafinhas de água (thank God, nós levamos, senão morreríamos de sede), red bull, chocolate, biscoito doce, biscoito salgado. Acho que só.
E o que a gente fazia com tudo isso? Colocava dentro do frigobar vazio?
Tá, deu pra fazer isso com as garrafinhas de água e os red bulls, mas e o resto?
Ficou tudo amontoado no pequeno espaço onde deveriam ficar as nossas pernas, que ja era reduzido. A gente viajou com os pés pra cima. Do frigobar. Beleeeeeza, heim?
Mas espere, ainda não terminou! Faltou falar dos nossos companheiros de viagem naquele cubículo da parte de baixo!
Atrás de nós tinha um casal que não fede nem cheira, entrou mudo e saiu calado, enfim, não fizeram nada além de ocupar as poltronas. tranquilo. Do lado deles tinha um ceguinho, viajando sozinho, esparramado em duas poltronas, que não parava de falar no celular nem sequer um minuto. E falava alto! A cada pouco ele soltava uma tipo "Mimimimimimi colocaram a gente pra viajar numa carroça mimimimimimi". Cara, ele tinha duas poltronas e um espação pra esticar as pernas só pra ele. E tava reclamando. Sacanagem.
Do nosso lado, mais uma figura peculiar. Um baiano, que não parava de falar, repetindo toda hora que tava voltando pra Bahia, e ia ter que viajar 4 dias e 4 noites! Aí ele começou a contar pra quem quisesse ouvir, que ele era um piadista, cover do Tiririca. OK. Como se não bastasse, ele "animou" ainda mais a viagem, cantarolando clássicos do ídolo, tais como "Forentina". E contando piadas em típico baianês, que só ele entendia, e só ele mesmo ria.
Nosso último parceiro de confinamento no pseudo-bagageiro, era um negão IGUAL o Snoop Dogg. Até o chapéuzinho, tudo! Com os ultimos dois a gente até bateu um papo durante uma das paradas que o ônibus fez. 
Perdí a conta de por quantos pedágios a gente passou, parei de contar no 32°. A viagem durou em média umas 16 horas, nas ultimas o banheiro do ônibus estava imundo, e mesmo assim me obriguei a usá-lo pra fazer uma 'troca', porque como se não bastasse, eu estava menstruada. Eu sei, detalhe sórdido desnecessário, mas só pra aumentar um pouco o desconforto, como se já não fosse grande o bastante.
 E porque é que vocês não se levantaram das poltronas desconfortáveis e foram se sentar naquele sofazinho circular que tu comentou mais cedo? - você me pergunta.
Ora, porque o baiano ficava toda hora migrando de um sofá pro outro, acho que se desse ele tinha pendurado uma rede ali! Aí o Snoop Dogg se esparramou pra poltrona que seria dele. Baiano enfim dormiu no sofazinho circular. Sobrou o outro ainda, pequeninho. A gente até tentou sentar nele, mas além de pequeno era duro. O único ponto positivo de ficar ali é que se tinha uma vista minuscula da estrada lá na frente, pela janelinha da porta da cabine do motorista.
E foi isso, sobreviví, e mesmo com tanto transtorno, posso dizer que sem sombra de dúvida, valeu a pena!