quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Update e feminices...

Bem, eu deveria estar lendo um artigo de bioética nesse momento, ou estudando eletroterapia, mas vim aqui contar pra vcs uma histórinha que aconteceu hj.
Antes, me senti meio na obrigação de dar um update (vai que alguém quer saber, né?) em relação ao último post.

1° - Ainda estou habitando o cafofo, e tá quase tudo nos conformes, já dei minha cara pro meu canto, falta ajustar umas coisas, mas tá tudo xuxu beleza. Aquela cama ruim da foto não existe mais, agora tenho um box com colchão novo! Só não é tão bom quanto minha cama de Caxias porque né, ela é de casal, e meu pequenino cafofo não comportaria uma cama desse tamanho, aqui.

2° - Faz cerca de 1 mês que me matriculei naquela cadimia maravilhosa que comentei com vocês. Já fui fazer spinning no meu primeiro dia, depois de DEZOITO meses sedentária, e DOZE quilos mais gorda (que atribuo ao sedentarismo, aos miojos e às pizzas congeladas. E também ao bandejão da Santa Casa, porque NÃO DÁ pra se servir pouca comida com aquelas escumadeiras tamanho industrial! E pão + macarrão + arroz no mesmo prato é um mar de carboidratos pra se acabar!).
Obviamente meu condicionamento físico estava beirando o inexistente e eu me despedacei um pouco, mas acompanhei a aula até o fim. E não desisti. E agora, tô fazendo spinning 3x por semana. E pilates. E musculação todo dia. E tomando coragem pra fazer uma aula de funcional ou kangoo jump. 

3° - Acabei largando o yoga, porque ele acontece no pior dia da semana possível, aquele em que mal tenho tempo pra respirar, e ainda tô conciliando com a cadimia.

4° - Bandejão da Santa Casa, como vimos, é uma faca de dois gumes (ou legumes), porque ok, é prático ter onde almoçar todo dia, mas eu com certeza andava comendo uma quantidade absurda de comida que não era necessária. Bom, não vai mais ser um dilema, porque a Santa Casa resolveu vetar o acesso dos alunos ao bandejão, devido à superlotação. Agora, o lugar é restrito aos funcionários e não tenho mais onde almoçar. Em partes... porque né, tenho comida em casa. Que, no caso, eu cozinho. E assim, comecei a melhorar minha alimentação, reduzindo DRASTICAMENTE a quantidade de arroz no prato, não mais misturando com macarrão (plmrdds Valeska onde tu tava com a cabeça fazendo isso?) e PÃO ainda!!!! E aumentando consideravelmente a quantidade de proteínas e vegetais. 

5° - Com isso, espero que a próxima vez que eu vier falar com vcs eu esteja no mínimo 12kg menos gorda, pra pelo menos chegar no patamar de gordura que eu estava quando me mudei pra Porto Alegre. :)

Dito isso, vamos à historinha:

A algum tempo venho pensando em parar de tomar pílula anticoncepcional, por diversos motivos:
Cansei de me entupir de hormônio desnecessário todo dia, não estou em uma relação estável e, camisinha tá aí pra ser usada em qualquer eventualidade; 
Essa merda é cara e, puta que pariu, não quero mais ter que comprar essa merda todo mês;
Sem falar que (não sei porque) eu atribuí alguns sintomas como excesso de sono, dores de cabeça e etc, à ingestão desses hormônios, e quero retirá-los da minha vida pra ver se isso melhora e eu comprovo a teoria.

Enfim, acabou a última cartela, estaria na semana de pausa, mas decidi que não vou comprar mais. Pelo menos esse mês. Vou ver que diferenças sinto no meu organismo e etc e tal.

Bom, uma das diferenças que o anticoncepcional trouxe pra minha vida quando comecei a usá-lo, foi que meu fluxo diminuiu consideravelmente, e a menstruação durava bem menos dias. E sempre vinha no dia certo, marcado. O que convenhamos, é MARAVILHOSO. E foi o que me fez relutar por muito tempo em abandonar o uso da pílula, mesmo achando que ela tinha alguns efeitos adversos.
Agora que finalmente aceitei que largando a pílula vou muito provavelmente voltar a ter mais cólicas e um fluxo mais intenso, comecei a pensar sobre alternativas para o uso de absorventes internos/externos, porque é um inferno. Apenas. E aí, comecei a ler mais sobre o copinho. Ou coletor menstrual. Parece ser uma maravilha, prático, higiênico, reutilizável. Estou com vontade de testar, pra ver se eu me adapto à ele... e estou torcendo MUITO pra que eu goste, e nunca mais precise comprar um absorvente na vida!

Prazer, copinho.

Só que eu não conheço nenhuma loja física que venda essa merda! Aliás, se você é de Porto Alegre e sabe onde eu posso encontrar o copinho, dá um grito por obséquio! 
Eu já vi pra vender em algum lugar... só não me lembro onde. E na época ainda estava receosa, mas agora meu coração se abriu pro copinho, eu quero, eu preciso! Onde tem???

Eis que hoje, antes da academia, passei numa farmácia que fica no caminho. Vai que tem, né? Não custa tentar... vai que eu deixei de olhar no lugar mais óbvio de todos! Aí entrei, comecei a olhar em volta, circular pelas gôndolas, em busca do meu copinho. Aí aparece um piazote, funcionário da farmácia, não devia ter mais que 17 anos... enfim, ele se aproxima e pergunta em que pode me ajudar. Prestativo, o rapaz. Olhei ele nos olhos, séria, e indaguei: 

"Vocês vendem coletor?"

- Hã? (ele não entendeu do que se tratava.)

"Coletor menstrual, vocês tem pra vender?"

O guri ouviu a palavra MENSTRUAAAAL e arregalou o olho, e deu um riso nervoso, e me apontou os absorventes falando: "Se tiver, deve estar nessa prateleira aqui."

Olhei pras pilhas de absorventes. Obviamente não era o que eu procurava. Até achei uns coletores descartáveis... mas de que me adianta? Tira todo o propósito do copinho! O guri ficou parado do meu lado enquanto eu lia a embalagem desses descartáveis, meio que ainda não sabendo bem o que eu procurava. Coloquei de volta na prateleira, olhei pra ele, agradeci, e saí sem achar meu copinho. Mas rindo da situação.

Gente, esses moleques tem que aprender a lidar com a palavra menstruação, pelamor! As meninas tem que lidar com ela própria desde os 10, 12 anos... cês podem lidar ao menos com a MENÇÃO, né? E, mano... o moleque trabalha numa farmácia. Será que também fica chocado quando alguém vai comprar supositório? Camisinha?

Achei graça. 



--------------------------------UPDATE--------------------------------


Bem, eu achei e comprei o copinho. O copinho é algo maravilhoso, muito mais prático que absorvente interno (ou externo né, pelamor). A única coisa que me incomodou nele foi a haste, que irritou um pouco a pele depois de uns 3 dias de uso contínuo. Cortei um pedaço dela, e estou aguardando o novo ciclo pra testar se isso surtiu efeito.

Sobre o anticoncepcional, passei 2 meses sem usar. No primeiro mês eu sequer menstruei, meu corpo estava se readaptando. Mas quando eu menstruei sem pílula, ah... não deu. Cólicas terríveis. Fluxo maior e prolongado! Ah não... isso é um inferno. Eu sabia que ia voltar, mas tinha esquecido o quanto isso era péssimo. Não aguentei não, voltei a tomar a pílula. E well... estou em uma relação estável. O que não quer dizer que tive imposição alguma, voltar a usar a pílula foi uma escolha única e exclusivamente minha. :)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Um cafofo pra chamar de meu

Olá bonitos e bonitas. Tudo bem com vocês? Então tá bom. 
Comigo? Ah, comigo tá tudo ótimo! Quer dizer... bom, boooom, BOOOOOM assim não tá, mas tá bem melhor, tá bom. É, tá bom.
Quero saber se vocês se lembram desse post.
Nesse post, a Eka de um passado não tão distante disse umas verdades pra si mesma, que vou transcrever aqui pra facilitar e dar o gancho pra esse texto aqui, tá bom assim?
Então...

 "Estou sem perspectivas pra 2016. Eu sei que vou voltar pra Porto Alegre. Eu sei que vou voltar pra UFCSPA. Eu sei que vou voltar pra rotina trabalhosa e cansativa. Só não posso deixar ela me engolir. Nem quero voltar a me anular. 
Preciso arrumar uma maneira. Preciso dar um jeito de morar em outro lugar. De ter um pouco mais de liberdade. De privacidade. Preciso ter a liberdade de deixar uma baguncinha pra lá quando não estiver afim de arrumar. De almoçar fora quando não estiver com saco de cozinhar as 10hs da noite, pra levar marmita no dia seguinte. 
Preciso ter um tempo pra mim e FOR THE LOVE OF GOD....... preciso levantar essa bunda gorda e por ela pra fazer exercícios. Lembra do prazer que era aquela bomba de endorfina depois de uma aula de spinning, Valeska? Lembra como aquilo era gostoso? A quanto tempo tu não sente isso? Não tá legal esse sedentarismo. Não tá legal essa rotina, em que o ponto alto do dia é se encostar num sofá qualquer pra conseguir dar um cochilo. Não tá legal. Quero voltar pra universidade. sim. Mas não quero voltar pra essa rotina na qual não existe EU."
Então!!!

O que acontece é que depois disso, a Ekinha fez várias buscas, várias pesquisas, vários contatos, em busca de um apê. Foi/voltou de Caxias a Porto Alegre e vice versa algumas vezes, pra olhar apês que pareciam "o lugar perfeito". Deu com os burros n'água algumas vezes. (ainda se usa essa expressão? não, né... bom, quer dizer que tomou no cu, de um jeito mais sutil. Isso.).
Acontecia mais ou menos assim:

"MEU DEUS ENCONTREI O ANUNCIO DO APÊ PERFEITO, VOU LÁ VER!"
 Acerta com os responsáveis, vai pra Porto Alegre ~~~
 Leva bolo da pessoa que ia mostrar o apê, que diz que "quando puder avisará", e nunca mais ~~~
 Volta pra Caxias decepcionada sem nem olhar o apê e achando até bom pq essas futuras roommates  são cuzonas que dão bolo nas pessoas ~~~

Mais um tempo passa, Eka continua procurando, vasculhando, procurando anúncios. Eka até acha uma miga que quer dividir apê também, e cês passam a procurar juntas.

"MIGA ENCONTREI O APÊ PERFEITO VAMO LÁ OLHAR!"
 Lá vai Eka e a miga olhar o apê, fala com os responsáveis, marca data, vai, é recebida, tudo  maravilhoso, lindo, perto da faculdade, e aí o apê era tipo, UM LIXÃO. E caro demais pra um lixão,  na boa.
Volta a Eka decepcionada pra Caxias achando que nunca vai achar um apê decente a um precinho legal.

Volta o ano letivo. Volta a Eka pra velha poltrona em que dormiu todo 2015, pro apertamento, o lugar que não lhe pertence, pra velha rotina da qual já estava de saco cheio.

Passam dias, passa o mês, continua a busca. A miga que ia dividir contigo aparentemente se arranja em outro lugar, pq não toca mais no assunto. Ok, then... continuamos na busca.

Até que um belo dia...

Numa bela manhã de sol...
(mentira, era noite)

Outra miga chega pra mim e fala:

MIGA SUA LOUCA, ACHEI UM APÊ PRUCÊ MORAR!!!!!!
(tá, não foi exatamente assim, eu acho... mas é assim que eu me lembro)

E a miga me manda fotas do apê e ele é LINDU, e eu falo com uma mina que já mora lá e É MARA, e eu pergunto o precinho e ele é SUPER OK, e eu pergunto a localização e é PERTO DA FACULDADE, e eu pergunto se ainda tem vaga pra uma pobre estudante homeless e TEM DOIS QUARTOS VAGOS, e eu pergunto quando posso ir conhecer e PODE IR CONHECER AMANHÃ MESMO, e eu vou finalmente conhecer o apê e MEU DEUS, É ISSO, QUERO! OMG, ACHEI CASA!

Foi mais ou menos assim que aconteceu. É. Só que demorou coisa de um mês desde o dia que eu fui olhar o apê, até o dia que eu de fato me mudei pro apê. Pq tinha que levantar uns pilas pra pagar o aluguel né, lembra que sou estudante homeless pé rapada né.

Mas deu tudo certo

TENHO UM CAFOFO PRA CHAMAR DE MEU! OMG!

Não fazem nem duas semanas que estou habitando o cafofo novo, no momento em que lhes escrevo essa postagem. Terminei a mudança, que consistia em um armário, uma cadeira, e duas malas de roupa. E livros. E comida. Tiveram algumas turbulências, still settling down, mas tá um milhão de vezes melhor. Already! Uma outra hora dessas conto pra vocês. Quando tudo tiver do jeito que tem que ser, eu posso até fazer um "antes e depois", como era, como é. Vejam vocês que estou aguardando algumas mudanças positivas, que tão pra acontecer.
Ah... as roomies são super deboas e gente fina pacarai.
Por enquanto é isso que queria contar pra vocês à respeito do cafofo.

AHHHH... e pertinho tem uma academia que já fui conhecer, e lá TEM SPINNING, BITCH!!!!!!!!!!!!!!

QUERO! MUITO! PRECISOOOOOOO!!!!
Acho que vai rolar. Não sei exatamente o que estou esperando pra ir lá fechar a inscrição, me deem aquele empurrão, fassavor! Tô precisando!

Para não dizer que estou total e completamente sedentária, ainda... comecei a fazer yoga num projeto da universidade. 
Eu. 
Yoga. 
Eu que sou a pessoa mais sem flexibilidade do mundo. 

E ESTÁ SENDO MARAVILHOSO! 

E é 1 vez por semana, mas já é algo, um tempinho que dedico exclusivamente pro meu bem estar físico e mental. 

E sobre as comidas, Eka? Ainda tá cozinhando tarde da noite pra ter o que por na marmita do almoço do dia seguinte?

 NOT ANYMORE!!!!

Não, eu não tô RYCA pra comer fora todo dia.
Não, a UFCSPA ainda não tem RU.

Mas eu descobri os prazeres d'O BANDEJÃO da Santa Casa!!!!


Foto meramente ilustrativa.

Nem é tão ruim assim, o bandejão. É bem amistoso, a maioria dos dias.
Repete feijão e arroz todo dia? Repete. Mas troca o outro carboidrato sempre.
Não é tão barato quanto um RU, nem tão caro quanto um restaurante. Super viável!
E com toda certeza do mundo, infinitamente melhor que levar marmita.

Tá, vou por uma foto real de um dos dias melhores, pra vocês verem que não é tão ruim assim:



Things are getting better, guys... a Eka de um passado não tão distante ficaria feliz de saber que as coisas realmente iriam melhorar em breve. E a Eka do presente sabe que podem e que vão melhorar mais!

First day at the CAFOFO

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Virada nostálgica

Cá estamos nós, em 2016. Mais um ano que se inicia, mais uma página da nossa vida, pronta pra ser escrita, bla bla bla.

Quando eu era criança, todo ano, passava as festas de final de ano na casa da minha avó paterna, em Guaporé. Nunca chamei a vó de vó. Era a casa da Nona. Família italiana não tem vó, tem Nona!

A Nona ainda morava na mesma casa onde meu pai e os irmãos cresceram. O vô, o Nono, eu nunca cheguei a conhecer. Faleceu quando o pai ainda era bem novo. 

Desde que eu me conheço por gente, a Nona morava lá, com a tia Lila. Tia Lila viveu a vida toda com a Nona, nunca saiu de casa. E desde que eu me conheço por gente, feriadões de páscoa, natal e ano novo, a gente passava na casa da Nona. Eu, o pai, a mãe, o meu irmão. Tios, primos, vários raminhos da família, que eu não sabia ao certo qual era o grau de parentesco.


Essa, é a casa da Nona. Só o andar debaixo. Em cima morava outro raminho da família... mas as minhas lembranças de infância são todas no andar debaixo. 

Lembro que toda vez que íamos pra casa da Nona, a mãe tinha que colocar na mala uma caixa de band-aid, e um vidro de mercúrio (o precursor do merthiolate, na época em que ele ainda ardia... aquele vermelho/alaranjado, que deixava manchas na pele, no lugar dos raspões, arranhões e machucados). Na casa da Nona, eu brincava na calçada... que naquela época não tinha nem calçamento. Na casa da Nona eu SEMPRE ralava os joelhos, ralava os cotovelos, vivia cheia de roxos pelas pernas, que nem sabia de onde tinham vindo. 

Nos fundos da casa da Nona, tinha o banheiro, do lado de fora. Depois de um tempo e uma reforma, construíram outro banheiro lá dentro, também. Nos fundos da casa da Nona tem terra, tem plantas, tem horta. A gente catava ameixa e guabiju direto do pé. Cereja, pitanga, jabuticaba. Temperos... sálvia, alecrim, funcho, hortelã... aprendi qual era qual, o formato da folha, o cheiro, o gosto de cada um. 

Na rua onde fica a casa da Nona, eu corria, eu me sujava, eu sentava no chão, de pijama, de noite. Não tinha portão nem grade, eu pulava a janela da sala pra entrar e sair, pra não ter que dar a volta pelos fundos. Eu corria, e andava de bicicleta. E numa dessas, a roda da bicicleta derrapou nos cascalhos da rua, e eu caí. E passei o resto da semana com manchas de mercúrio nas palmas das mãos, e nos joelhos, onde tinha me ralado e cortado. Meus joelhos carregam até hoje as cicatrizes desse tombo. Em outro tombo, na mesma rua, na mesma bicicleta, a roda dessa vez ficou emperrada em um buraco, o impacto me jogou pra frente, caí por cima do braço direito. Fratura. 

A casa da Nona era o lugar onde a Eka criada em apartamento virava a Eka moleca. Lembro como se fosse hoje, da mesa farta nas ceias de natal, com todo mundo em volta. Mesa essa em que eu e minha prima nos escondíamos debaixo, pra roubar cerejas da decoração antes da hora do jantar. Como se ninguém estivesse vendo. Era secreto. Essa mesma mesa, amanhecia com cestas de chocolate no topo, nas manhãs de páscoa. Mas a Eka moleca já sacava tudo, e enquanto os primos mais novos dormiam acreditando que o coelhinho viria, levantava da cama de madrugada e trocava os bombons das cestas, separando pra si os seus favoritos, e deixando pros primos aquele maldito bombom de banana. Criança corrupta! hahah

Mas a Nona, a Nona nunca precisou de data especial pra manter a mesa farta. Não! Em seus tempos mais saudáveis, fazia questão de cozinhar tudo o que a gente gostava. E cozinhar MUITO! E muito, muito bem. Não há no mundo, comida como a comida da Nona. Era fartura do café da manhã ao jantar, com direito a petiscos nos intervalos. Na casa da Nona, eu acordava cedo. A casa acordava cedo. Também me lembro como se fosse hoje, de sentar na mesa da cozinha pra tomar um canecão de leite com nescau, pão caseiro, e chimias de todos os sabores, de todas as frutas. Queijos e salames coloniais, e manteiga feita em casa. Aliás, a Nona fazia chimias muito boas, também. Quando eu acordava, a nona e a tia Lila já estavam de pé, e o pai já tinha até saído pra buscar o jornal. E enquanto eu tomava meu café, as vezes a mãe aparecia na porta da cozinha, de camisola e com cara de sono, perguntando porque é que a gente levantava tão cedo. Se eu fechar meus olhos, posso ver a cena.

Depois que crescemos, cada um foi pro seu lado, e nunca mais passamos os feriados na casa da Nona. Visitávamos, sim. Cada vez mais esporadicamente. E a Nona me abraçava e chorava de saudades a cada visita. 
O tempo passou, a Nona adoeceu... acho que nunca contei aqui essa história. Contei? Não sei. Só sei que a Nona adoeceu, e durante algum tempo, não se sabia o que ela tinha. Até que quando se soube, era câncer. No colo do útero. Ela veio pra Caxias, morou lá em casa durante o tratamento, fazia radio e quimioterapia em Porto Alegre, o pai levava e trazia ela de lá todos os dias. A mãe cuidava da Nona como se fosse mãe dela mesma. Mas a nona, aquela mulher grande, forte e faladora, foi ficando fraquinha, emagrecendo. Como uma luzinha que se apaga aos pouquinhos. Ela se curou do câncer, sim. Mas estava fraquinha, e acabou falecendo pouco tempo depois. Faz cerca de 3 anos que isso aconteceu.

Tia Lila continua morando na casa onde o pai e os irmãos (meus tios) cresceram, agora sozinha. Depois que a Nona faleceu, aí sim que não teve mais festa. Passou um bom tempo, até que voltássemos pra lá. Acho que nos últimos 3 anos, eu fui pra lá uma única vez. Sem contar essa vez.

Passamos, eu e o pai, o finalzinho de 2015, a virada do ano, e os primeiros dias de 2016, na casa da Nona. Que agora é a casa da tia Lila. A cidade cresceu, a casa mudou. Agora tem portão, e grade nas janelas, não dá mais pra pular. Agora tem calçamento, e até movimento de carros na rua. Agora tem o quarto da Nona, com todas as coisas dela nos seus devidos lugares, porém vazio. E a mesa da sala de jantar, aquela que eu me escondia embaixo, esquecida no cômodo escuro. E os armários, cheios de louças que a tia Lila nem tem mais ocasião pra usar. E as paredes, com aquele ar de nostalgia, só de olhar. Esses dias me remeteram àqueles dias que se foram, e eu senti como se, a qualquer momento, a mãe fosse aparecer na porta da cozinha, de camisola, com cara de sono, perguntando porque é que a gente tinha levantado tão cedo. Como se a qualquer momento, eu fosse entrar na sala e ver a Nona sentada na sua poltrona favorita, fazendo crochê na borda de um pano de prato, vendo tv, ou tirando um cochilo. Ou então sentada na cozinha, do lado do fogão à lenha, cuidando uma panela.

A virada do ano foi de saudade e nostalgia. Mas foi longe de ser ruim. 

Não tem mais a Nona. Não tem mais a mãe. Não dá mais pra pular a janela da sala. Não tem mais a casa cheia, a mesa farta (ok, estava farta, proporcional para 3 pessoas... mas antes era comida pra mais de 10). Não tem mais necessidade de tomar banho no banheiro lá de fora, e entrar na casa enrolada na toalha. Não tem mais as chimias da Nona. Eu não ralo mais os meus joelhos nos degraus ásperos e irregulares da escada dos fundos, nem preciso mais dos band-aids ou do merthiolate como itens essenciais da mala. 

Mas tem a tia Lila, sempre tão carinhosa, no seu jeito simples de fazer um agrado. Tem o pé de ameixa, os pés de guabiju carregados, com as frutinhas ainda brotando. Tem a terra, a horta, e os temperos. Tem o alface, a couve, a salsinha. A sálvia, a cebolinha e o alecrim. Tem a jabuticabeira, com os frutos atacados pelos passarinhos. Tem os raminhos da família, que hora ou outra aparecem por lá pra tomar um chimarrão e jogar conversa fora. E tem aquele ar de saudade... esse, nunca vai embora.