Esse é mais um daqueles posts clichês de final de ano. Mais um ano aqui estou eu relatando pra vocês as minhas considerações. Posts de fim de ano, resoluções de fim de ano, retrospectivas...
Esse ritual de fim de ano é como se fosse um ~ritual de passagem~. Como se alguém tivesse morrido. O nosso "eu" velho morreu, e agora, com a virada do ano, é hora de nascer o novo "eu", renovado, de alma lavada, mais disposto, mais comprometido, uma "atualização" no software da vida. (ok, isso foi meio weirdo).
Sabe o que eu tenho a dizer sobre isso? BULLSHIT! Balela! Conversa fiada.
Fazemos a contagem regressiva, comemos lentilha, pulamos 7 ondinhas, guardamos uma folha de louro na carteira. Vestimos calcinhas coloridas conforme o que queremos atrair. Nos abraçamos e desejamos uns aos outros tudo de melhor que possa existir, nesse novo ano que se inicia.
E é só o novo ano engatar na rotina, que esquecemos tudo isso. Estouramos o limite do cartão de crédito. Comemos em um dia, calorias suficientes pra uma semana. E aquelas pessoas pra quem desejamos felicitações? Nem nos vemos ou nos falamos ou nos importamos mais. Somos absorvidos pela nossa própria vida, pela nossa própria rotina, pelos nossos desafios e stress e conquistas diárias. Pra no final, no ano seguinte, repetir tudo outra vez, falar que vai fazer diferente. Guess what. Não.
Você não vai fazer nada de diferente só porque o ano virou. Porque a mudança, meu amor, tem que acontecer em você. Não no calendário. Pouco importa o dia, o mês, o ano.
A vida nos dá um baldinho, e vai pingando nele dia a dia... gotinhas... coisinhas pequenas que começam a nos incomodar. De gotinha em gotinha. E a gente não liga. Ah... foi só uma gotinha. Só uma briguinha. Só uma discussãozinha. Só um momento desagradável. Só umas continhas atrasadas. Só uns quilinhos a mais. Está bom assim. É só uma gotinha. Algo assim tão pequeno não vai me afetar. Não vai fazer diferença nenhuma no universo que é a minha vida. Uma gotinha não é nada perto da capacidade desse baldinho que a vida me deu.
Mas a verdade, meus queridos, é que uma hora o baldinho aonde fica pingando a goteira da vida se enche e transborda. Uma hora, não tem mais espaço pra tantos "inhos" que foram acumulando e acumulando e a gente simplesmente ignorou. Aquelas gotinhas, tão fáceis de enxugar quando sozinhas, quando recentes, agora se acumularam. Não tem mais espaço pra tantas "gotinhas" acumuladas no seu baldinho. Ele transbordou. Agora, além de limpar a molhaceira derramada, você tem que se livrar de toda aquela água. Tem que se livrar de tudo aquilo que encheu o seu baldinho, transbordou, e fez uma meleca na sua vida.
E a verdade é que raramente o "extravasamento do seu baldinho" vai bater com a virada do ano. Não adianta o ano mudar, se você continua o mesmo. Se você continua recebendo as gotinhas de bom grado, e não faz nada em relação a isso. Se você continua aceitando que as coisas são assim. Que sua vida é assim. Conformado na sua zona de conforto.
Dito isso, eu retomo a frase que deu nome a esse post. O que falar de 2013?
2013 foi um divisor de águas na minha vida. O ano em que, lá na metade, o meu baldinho de karma extravasou. O ano em que me livrei de todas as minhas "gotinhas", que eu já vinha acumulando a não sei quanto tempo. O ano em que a última gota caiu.
O meu "ano novo" não aconteceu na virada do ano. O meu "ano novo" já começou, no momento em que joguei fora tudo de ruim. Saí da zona de conforto. Desafiei a mim mesma. Fiz o que parecia inalcançável. Me livrei das desculpas. Desatei nós e soltei todas as amarras. E não olhei pra trás.
2013 foi um ano de altos e baixos. Uma montanha russa sentimental. Um ano em que decisões foram tomadas. Um ano em que de tanto me conformar, de tanto aceitar a situação em que me encontrava e dizer pra mim mesma que "com o tempo vai melhorar", sem fazer nada pra que isso acontecesse, acabei ficando no fundo do poço, coberta de lama e cocô. Fui pisada, cuspida e ignorada.
Chorei muito até compreender que a mudança tinha que partir de dentro de mim. Escalei as paredes do poço, com sangue nas mãos. A cada atitude revolucionária, um pouco mais acima. A cada sentimento ruim deixado pra trás. A cada nova pequena conquista pessoal. Agora, estou bem longe do fundo do poço, mas ainda não alcancei o topo. E só depende de mim persistir e continuar escalando, ou soltar e me deixar cair novamente. Não. Cair não é uma opção. Deixar gotinhas se acumularem não é mais uma opção.
E as gotinhas que caírem? Bem. É impossível faze-las parar de cair. Mas é possível enxugá-las, uma a uma, assim que caírem. Não deixar acumular. Não deixar o baldinho encher. Não deixar a sua vida se transformar em uma meleca.
Agora, acumularei sorrisos. Acumularei pequenas vitórias. Acumularei pequenas conquistas pessoais. Agora, encherei meu baldinho com flores. As gotinhas só servirão para regá-las. Para mantê-las vivas. Algumas gotinhas são necessárias pra que se veja com mais intensidade a beleza e o perfume das flores.
Em 2013, eu esvaziei o meu baldinho de água, e plantei as sementinhas das minhas flores. Agora os primeiros ramos das minhas flores começaram a brotar. Que em 2014, então, essas flores cresçam ainda mais. Cresçam tanto que não caibam mais no meu baldinho. Que brotem tantas, mas tantas flores, que eu possa colhê-las, e dá-las de presente pros que ainda estão deixando seu baldinho encher de água da goteira. Pra que eles vejam como são bonitas, e cheirosas, e quem sabe plantem as suas próprias flores.
E que eu continue escalando aquele poço, até um dia chegar no topo. A escalada, no começo, é árdua. Mas conforme vamos subindo, ganha-se um pouco mais de prática. Ganha-se ajuda. Ganha-se companhia de pessoas que assim como nós, estão escalando seus próprios poços. Encontra-se mais sementes, colhe-se mais flores pelo caminho.
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Esse texto, recheado de analogias, tem seu motivo pra existir. Entendedores entenderão.
Queria aproveitar pra agradecer aqui a todos os responsáveis por esses brotinhos de flor que estou cultivando. E até mesmo, aos responsáveis pelas gotinhas, que hoje só servem pra regar as minhas flores.
Que nesse ano novo, vocês esvaziem o baldinho de vocês antes mesmo de esperar que ele extravase. E que cultivem suas próprias flores. E que jamais desistam de escalar.