Engraçado como eu sempre começo os posts explicando o título, e como ele não tem nada a ver com o que você provavelmente pensou. Bom, esse aqui não vai ser diferente. Na verdade vai, comecei com a "explicação da explicação". Enfim.
Muitas vezes na vida, em vários aspectos, já me senti atrasada, já me auto-rotulei como atrasada. Mas não se trata de pontualidade, especificamente. Nesse quesito, sou até meio que neurótica, extremamente pontual, adiantada até, eu diria. E contraditoriamente, detesto atrasos.
Aonde me sinto atrasada, são nas coisas mais complexas. Coisas da vida. Decisões, e passos que a gente dá, que definem rumos e coisa e tal.
Tudo na minha vida sempre aconteceu depois. Depois da "média". Depois que com a maioria. Ou ao menos um tanto diferente.
Quando novinha, enquanto minhas amiguinhas queriam brincar com seus celulares, eu queria andar de bicicleta. Enquanto elas estavam tendo suas primeiras paixões platônicas, escrevendo o nome de um carinha qualquer dentro de um coração da última folha do caderno, eu assistia pokémon e tinha vergonha de falar com meninos. Sim, eu já tive vergonha de falar com meninos. E acho que nunca passei pela fase de escrever nomes em corações na última página.
Enquanto elas estavam começando a ir pra baladinhas, e dando seus primeiros beijos na boca, eu superei minha "fobia" de falar com meninos, e descobri que eles podem sim ser ótimos amigos. E eles tinham figurinhas pra trocar, pra completar meu álbum do pokémon.
No fundo a minha "fobia" era pura insegurança de que a menina gordinha ia simplesmente ser alvo de zoação, o que mais seria? E aí descobri que vários deles até me achavam legal. (alguns ainda queriam me zoar, alguns só me queriam como uma forma de aproximação com "aquela amiga gatinha", mas não se pode ter só flores na vida...)
Quando eu finalmente fui pra uma baladinha, quando eu finalmente dei meu primeiro beijo na boca, algumas delas já tinham beijado mais caras do que conseguiam contar. Algumas anotavam em um caderninho pra não esquecer.
Quando tive então a minha fase de paixonites platônicas, algumas já tinham um namoradinho, que levavam pra casa pra namorar escondido enquanto os pais não estavam.
E aí se passaram anos. Amigos se fixavam em seus empregos, enquanto eu tinha acabado de largar o meu primeiro. Amigos iniciavam faculdade, botavam faixa de "BIXO" na frente de casa, enquanto eu não sabia o que queria da vida, e ficava em casa jogando Donkey Kong, assistindo anime e aprendendo inglês.
E quando finalmente tive meu primeiro namorado, o único cara que eu já trouxe pra casa, o único cara que apresentei pra família, algumas amigas já estavam noivando. E casando. Ou indo morar junto.
E eu pensando "gente, mas que cedo!" ...feliz da vida indo pro meu cursinho pré vestibular.
Fui a última a dar o primeiro beijo. Fui a última a ter um namorado. Fui a última a ter um coração partido. Fui a última até a ter a primeira menstruação, mas isso não vem ao caso!
Fui a última a resolver o que queria da vida, e hoje, enquanto estou feliz comemorando a minha decisão, feliz com o meu PRIMEIRO de muitos semestres de faculdade que ainda virão, feliz por ter um emprego que eu adoro (e que só conquistei porque, lá atrás, fiquei em casa "fazendo nada", e estudando inglês), e que me torna capaz de bancar meu próprio estudo...
...enquanto estou comemorando esses primeiros passos, essas pequenas vitórias, meus amigos do tempo de escola compartilham fotos e convites para suas formaturas. Planejando casamento. Filhos.
Vou, muito provavelmente, ser a última a me formar. Ser a última à sair da casa dos pais. A última a conhecer "o amor da minha vida". A última a aprender a dirigir! (ainda estou tentando tirar minha habilitação). E quer saber mais? Não estou com a mínima pressa!
Sempre levei a vida no meu próprio ritmo. Meu relógio interno gira ao seu próprio passo. E não, eu não sou atrasada. Nem acho que os outros sejam adiantados. Só acho que a vida não é uma corrida.
Não é uma competição pra ver quem "chega lá" primeiro. Até porque, a vida é uma eterna renovação.
Todo dia é uma oportunidade de começar algo novo. E o que eu faço, gosto de fazer bem feito. Não fazer por fazer, mas entrar de cabeça. Com todo meu potencial, com todo meu coração. E até encontrar o que me prenda, algo assim, apaixonante, eu levo tempo. E se não for pra ser assim, se não for pra ser intenso, que não seja.
Hoje, meus caros, é meu aniversário. Hoje completo 23 anos. E quando falo que sim, tenho vinte e três anos, as pessoas tendem a não acreditar. Chutam que eu pareço estar na faixa dos 19. Seja por aparência física, seja porque estou fazendo hoje o que pessoas costumam fazer lá pelos seus 18, 19 anos.
Entretanto, estou feliz por ter tomado as decisões que tomei somente agora. Quando eu tinha, de fato, meus 18 anos, não tinha a maturidade que tenho hoje. Não tinha a cabeça que tenho hoje. E tinha muito, muito mais inseguranças do que as quais eu conseguia lidar.
Hoje, eu aprendi a matar leões. Aprendi a levantar o queixo e dar a cara à tapa. Aprendi que a minha vida, e o rumo que ela toma, depende unicamente de mim, das minhas decisões. E principalmente, aprendi que ir na direção correta é muito mais importante do que ir rápido. De que adianta correr, pra chegar lá no final, olhar pra trás e se questionar? Sobre quais poderiam ter sido os outros caminhos, se tivesse parado um pouco mais pra refletir sobre a própria vida, os próprios gostos, as próprias vontades... o que você está fazendo hoje, é aquilo que realmente queria estar fazendo? Questione-se.